domingo, 8 de maio de 2011

Non, rien de rien!

Eu já me arrependi de algumas coisas que fiz e deixei de fazer, no entanto, é a música que fala justamente o contrário disso a que mais gosto de Edith Piaf.

Estas imagens são do filme, não da verdadeira Piaf

Não, nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado
!

Com minhas lembranças
Acendi o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles
!

Varridos os amores
E todos os seus "tremolos"
Varridos para sempre
Recomeço do zero
.

Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...!
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, isso tudo me é bem igual
!

Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...
Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Hoje, começam com você
!

E um dos principais motivos de eu gostar tanto desta canção é o fato dela ser a única coisa totalmente em francês que eu sei cantar do início até o fim. Sim, estou tirando onda.

Francês é o idioma da minha vida. É poético, sexy, filosófico. É romântico e deprimente. É blasé e decadente. É cult e charmoso. Se fosse uma pessoa, seria viciado em anti-depressivos mas viveria com a intensidade de poucos. Ou vai ver esta é apenas a imagem romântica que eu tenho dos intelectuais e boêmios franceses, que andam fumando e soltando frases de efeito nas vielas de Paris.

Eu tenho poucos orgulhos linguísticos na vida, esta música é um deles justamente por ser francófona. Também tentei aprender La Bohème (versão do Aznavour) e Toreador (a ópera), mas sempre esqueço de algum trecho. Já Non, Je Ne Regrette Rien eu sempre lembro inteirinha mesmo sem ouvir tanto assim.

Essa música me causa um certo encanto, o desprendimento e a liberdade com os quais ela interpreta a letra, o jeito de quem viveu exatamente da forma que queria mesmo sabendo que sofreria por isso, e quem conhece sua história sabe o quanto ela sofreu, e ainda assim resolveu realizar seus próprios desejos sem se importar com os julgamentos alheios. É preciso coragem para encarar as coisas desta forma, sem se esconder, sem se encolher em um canto e seguir os planos traçados pela maioria dita normal. Viver é difícil, são muitas escolhas, muitas possibilidades e a morte está logo ali, a distância de uma janela no oitavo andar, de um vão no metrô, de uma rua movimentada. Nós podemos ir até ela quando desejarmos, ou sermos simplesmente atirados a ela por alguém sem dar ao menos permissão. Vivemos por um triz e ainda assim não sabemos viver, não sabemos porque viver, não sabemos o que fazer.

Quando ela diz que não se arrepende de nada, não se refere a ter vivido da forma certa ou errada, de ter feito as melhores ou as piores escolhas, e sim de ter feito as suas próprias escolhas, de não ter deixado ninguém decidir por ela. De ter feito tudo o que fez porque quis, porque na época parecia ser o melhor fazer. Ela foi dona do seu próprio caminho e agiu sem se importar com as flores e as pedras que apareceram no meio da jornada. Pouca gente tem coragem de fazer isso. E singularidades sempre me fascinam.