domingo, 26 de junho de 2011

Sem luz no fim do túnel

Poucas coisas destroem tanto a minha autoestima quanto a matemática. Aliás, nada destrói tanto a minha autoestima quanto a matemática. É a minha maior inimiga e a grande frustração da minha vida. A eterna pedra no meu sapato. A erva daninha da minha plantação. A febre aftosa do meu gado. A chuva do meu feriado. A maçã podre na minha fruteira. A internet discada da minha conexão. O idioma que eu nunca consigo aprender. O tempo seco da minha rinite alérgica.

Eu tenho uma teoria de que qualquer pessoa é capaz de aprender qualquer coisa e eu realmente acredito nisso, mas tem certas coisas que exigem uma capacidade extra para serem aprendidas e tem horas que a minha frustração é tão grande que eu não acho que eu tenha essa capacidade extra. Eu sei que eu tenho, sou capaz, mas o caminho é árduo demais pra eu manter o otimismo. A cada passo a frente aparece uma nova dificuldade que valem por três passos pra trás, uma nova barreira que parece intransponível. Deus é testemunha que eu tento, tento, tento e ainda assim parece que tudo é em vão. Eu caminho a passos muito lentos, queria ser melhor, eu consigo aprender japonês de trás pra frente mas não decoro uma fórmula. Me sinto uma retardada. Aí finalmente a coisa sai, um problema eu consigo resolver, e então percebo que não faço ideia de como resolver os outros 6 que faltam. E aí? o que fazer quando o mar parece mais longo do que a minha capacidade nadar? Quando a cada braçada vem uma onda e me joga pra mais longe da areia? respirar fundo e tentar de novo, só pra perceber que depois de muito esforço eu praticamente não saí do lugar? nessa altura do campeonato só me resta rezar pra que um salva-vidas forte o suficiente apareça pra me tirar do oceano. Porque é assim que me sinto: presa a um lugar que eu odeio, sem me mover nem respirar e sem qualquer perspectiva de um dia sair dali.

E eu queria tanto poder dizer que no fundo eu sei que as coisas vão melhorar. Que eu vou descobrir uma maneira de sair dessa situação e seguir em frente. Mas eu não consigo dizer isso, eu não posso. Porque eu sei que é mentira (e mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira). Mas também sei que só depende de mim mudar essa realidade. E depender só de mim é mais um motivo pra eu manter o pessimismo.

domingo, 12 de junho de 2011

BMW Jazz Festival – Parte 2

Quando o Joshua Redman Trio acabou, todos se levantaram e aos poucos foram para a frente do palco esperar o início do tão aguardando show de Sharon Jones & The Dap-Kings!

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Eu fiquei no mesmo lugar que estava desde que cheguei: bem lá na frente.

Antes de falar do show, preciso comentar da música ambiente: tocou Stevie Ray Vaughan umas 3 vezes. Dancei sozinha (pra variar) e fiquei imaginando como devia ser ver esse cara ao vivo. Porque os melhores morrem rápido?

Os primeiros a entrar foram os Dap-Kings. Eles tocaram umas duas músicas e depois chamaram as duas backing vocals, uma de cada vez, pra cantar um som antes de chamar a Sharon. As duas moças tem uma baita voz e eu iria fácil em um show solo delas. Mas quando a Sharon entrou no palco eu vi a diferença entre ela e as duas meninas: a presença de palco da Sharon Jones é algo absurdo. A mulher tem 55 anos e não parou de dançar, andar, correr, dar pulinhos, bater cabelo e falar o show inteiro. Até ajoelhar no chão ela ajoelhou. E não tinha essa de parar para descansar, era uma música atrás da outra, uma melhor que a outra e ela simplesmente não cansava. Se eu chegar aos 50 anos assim, sou uma pessoa feliz.

A banda também merece aplausos, cheios de coreografias combinadas e um entrosamento que só quem esta há anos juntos consegue ter, eles muitas vezes roubavam a cena, principalmente o equatoriano “boogaloo” que ficava dançando de uma maneira bem peculiar junto de seus bongôs. E tocam horrores! O que é aquele baterista? E preciso dizer que ele é a cara de um professor de química que eu tive. Se eu visse andando na rua, jurava que era ele. Voltando ao assunto, eles também são a banda da Amy Winehouse e gravaram o CD Back to Black com ela. Aparentemente eu não sou a única que acha os caras fodas.

No final das contas eu nem me lembro quantas músicas eles tocaram, foram tantas que perdi a conta, porém, foi mais do que suficiente pra fazer o que tinha tudo pra ser um domingo perdido em um dia merecedor de um lugar especial na minha memória. O clima daquele lugar já é algo memorável por si só. Um monte de gente que nunca se viu, deitados na grama, pegando sol e curtindo o dia. Acho que este foi o maior aglomerado de gente boa e tranquila que eu já vi. Cada um na sua, sem aquele clima de medo e violência que toma conta das ruas. Nem bêbados enchendo o saco tinha. Não havia nada para atrapalhar o clima de Woodstock dos pobres do 12 de junho paulista. E tudo isso regado a muito jazz.

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BMW Jazz Festival – Parte 1

Acabei de chegar do BMW Jazz Festival, vulgo show que eu falei no post abaixo. E vou começar do começo.

Eu fiz jus a minha síndrome de forever alone e fui sozinha. Todo mundo estava ocupado e restou-me passar o dia dos namorados só e comigo mesma. Pra terem uma ideia, em todo o Ibirapuera somente eu e um tiozinho não tínhamos companhia. Mas quem precisa disso? 

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Acho um absurdo essas pessoas que deixam de ir a algum lugar só porque não tem ninguém pra ir junto. Claro que eu prefiro ir com alguém, mas se não der, paciência, em casa é que eu não fico.

O show estava marcado pras 17h30 e eu cheguei lá pelas 16h, depois de uma caminhada de 30 minutos em um bairro bonito pra caramba que eu não conhecia e essa caminhada foi a prova de que a melhor maneira de conhecer um lugar é andando por ele. E é incrível a preguiça das pessoas. Todo mundo que eu pedia informação sobre como chegar lá vinha falando de ônibus e quando eu dizia que ia a pé, sempre respondiam: “vai ter que andar bastante, é longe”. 30 minutos é longe aonde? Até o casal que estava de bicicleta falou isso, mas eles eu deixo passar porque me deram o ponto de referência mais legal que eu já ouvi: é só seguir o pôr-do-sol. Vai dizer que não é poético? Enfim, gosto de andar por São Paulo e enquanto puder, vou a pé.

Quando cheguei lá estava meio vazio ainda e com uma cara de Woodstock dos pobres. Todo mundo sentado no chão fazendo piquenique. E um leve cheiro de maconha e incenso.

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Não sei se lá a coisa estava mais tranquila ou se sou eu que já me acostumei, mas o cheiro de marijuana estava bem leve, tinha horas que não tinha cheiro algum, o que é BEM incomum em qualquer show gratuito daqui. E vale até uma comparação com a Virada Cultural. Enquanto na Virada eu via um monte de gente bebendo vinho químico de R$ 1,00 no gargalo, no Ibirapuera tinham várias pessoas bebendo vinho também, porém vinho de verdade em taças de vidro. Repito, taças de vidro! As pessoas levaram taças pra lá como se estivessem no quintal de casa e ninguém matou ninguém com elas, o que na Virada pode acontecer a qualquer momento.

Sentei em um canto, dividindo a minha solidão com o senhor que estava a alguns 055passos de mim,  e fiquei esperando o show começar. Primeiro veio o show de abertura, óbvio, que foi do Joshua Redman Trio, um trio de jazz que eu nunca ouvi falar, mas que toca muito. O mais legal é que todo mundo assistiu o show sentadinho na grama, em silêncio, só curtindo o som dos caras.

E foi aí que chegou um bando de adolescentes a fim de causar, falando sem parar e MUITO alto. Dava pra sentir no ar o clima de “calem a boca” que tomou conta do recinto, com direito a várias pessoas fazendo “shhhiii” quando eles falavam alto demais, mas a hora mais engraçada foi quando uma das meninas mais chatas do grupo falou:

- AH EU VOU EMBORA!
Todo mundo em coro – AAEEEEEEEE!!!!

Os músicos não entenderam nada, no entanto, ela e o seu grupinho sim e finalmente calaram a boca.

A apresentação dos caras, apesar de muito boa, acabou rapidinho. Foram cerca de 30 minutos apenas, mas foi o suficiente pra deixar o lugar que estava um tanto vazio completamente lotado. Quando eu me levantei, tinha um mar de gente atrás de mim e eu não sei como tanta gente conseguiu chegar sem fazer o menor barulho, a ponto de quem já estava lá ter se assustado quando viu a quantidade de seres que estavam lá.

Antes

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Depois

 

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Esse povo todo apareceu lá de uma hora pra outra só pra ver a grande estrela da noite. E o show dela é a segunda parte desse post.

Vida inteligente na madrugada

Hoje, assistindo Altas Horas, eu descobri a Sharon Jones. Na verdade eu já a conhecia de nome e tinha curiosidade de escutá-la, mas sempre esquecia de procurar no Youtube. Quando a vi no programa do Serginho Groisman foi um alento e um motivo pra passar a madrugada vendo TV. Gostei pra caramba, a mulher canta muito e o que canta vem de dentro, não é música plastificada, é soul de verdade. E o melhor é que neste mesmo programa eu descobri que hoje tem show dela, de graça, no Ibirapuera.

É por coisas assim que eu adoro São Paulo, meus finais de semana são salvos de uma hora para outra porque sempre tem algo de bom acontecendo na cidade. E como planejamento não é algo do qual eu faça muita questão, tudo bem descobrir um show 13h antes dele acontecer =)

Um pouco da Sharon pra vocês::

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Muderna!

Agora este blog tem um layout especial para ser lido em celulares. Sinto-me tão geek e tecnológica (o fato de quem fez todo o trabalho foi o Blogger e eu simplesmente apertei um botão quando eles jogaram essa opção no meu colo a gente abafa).

Por que você pirateia?

“Por que você pirateia?” é o título de uma matéria do Estadão sobre um site francês que reúne os motivos pelos quais nós, internautas, baixamos coisas ilegalmente na internet.

Eu já pensei nisso algumas vezes e costumava me dar aquela velha desculpa de que é tudo culpa dos altos preços e que se CDs fossem mais baratos eu compraria e bla bla bla. Tudo mentira. Baixo porque é de graça. E enquanto os originais não forem gratuitos, eu continuo baixando. Aliás, nem quando forem gratuitos. Meu netbook não tem entrada para CD/DVD e eu já deixei de comprar algumas coisas por isso.

E o motivo pelo qual eu faço isso é o mesmo de todo mundo, no mundo todo. Por mais que todos saibam que é errado, ninguém quer pagar por algo quando se tem a mesma coisa, com alta qualidade (porque só baixa filme podre, filmado no cinema, quem não sabe caçar o troço em HDTV no Google), gratuitamente na internet. Claro que tem os casos dos fãs, que fazem questão de ter os CDs de seus ídolos em casa, pra poder ficar babando no encarte e aquela coisa toda, eu também sou assim com as bandas que eu gosto muito, muito, muito mesmo. Entretanto, aquelas bandas, ou filmes, ou séries, que gostamos mas não mudam nossas vidas, podem estar o preço que for nas lojas, 94,7% das pessoas preferirá baixar na internet simplesmente porque nenhum preço ganha da opção “de graça”.

No próprio site do Estadão tem um monte de gente colocando a culpa no Brasil e seus impostos from hell. Concordo que os impostos daqui são absurdos, porém, se o problema fosse esse, a pirataria seria um problema exclusivo do Brasil, coisa que a falência generalizada da indústria fonográfica prova que não é.

Então não adianta ficar de hipocrisia e inventar desculpas para justificar o total desprezo pelos direitos autorais alheios. Baixar é de graça e de graça, até injeção na testa.

ps: vale colocar a opção mais votada no tal site francês para justificar os downloads ilegais: “Porque eu faço um backup às minhas custas do patrimônio cultural da humanidade”. Adoro o cinismo desse povo.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Vida em sociedade

O último post me fez pensar em como a atitude de quem a gente não conhece muitas vezes é tão importante.

Hoje eu trabalho o dia inteiro com pessoas sob os mais variados “estados de espíritos”. Trabalho com o tão (mal) falado Serviço de Atendimento ao Consumidor, vulgo SAC. Atendo gente puta da vida (e muitas vezes com razão) e gente nem tão puta assim. E chega a ser engraçado como certas atitudes mudam todo o tom da conversa.

Quantas pessoas com muitos motivos para surtar no telefone não ficaram calmas simplesmente porque eu as tratei bem? acho que elas sentem que ao menos alguém se importa com elas, e a sensação de estar tendo atenção supera a revolta pela não solução do problema. Parece absurdo o que digo, mas vejo isso todo santo dia.

E quantas pessoas sem motivo algum pra reclamar desligaram o telefone espumando de raiva porque eu as tratei mal? o sentimento de descaso foi maior do qualquer solução apresentada.

E quantas vezes eu passei o dia inteiro com um sorriso no rosto porque alguém fez uma gentileza, um elogio ou ligou no dia seguinte pra agradecer algo que fiz por elas? E não tenho a menor dúvida de que os elogios marcam muito mais que os xingamentos. Um xingamento te deixa nervosa na hora, um elogio muda um dia inteiro.

Por mais que tentemos ser criaturas racionais, que agem de maneira lógica e não se deixam afetar por coisas sem importância lógica, não conseguimos. Ainda somos animais, não máquinas. E a relação com outros seres de nossa espécie ainda é a coisa mais importante, que mais nos preocupa e nos afeta.

Mesmo quando o assunto principal não são pessoas, e sim produtos ou simplesmente dinheiro, a relação e a reação de outra pessoa é o que mais faz diferença.

Todo mundo gosta quando alguém que mal conhece demonstra se importar. E não custa nada ajudar a velinha a atravessar a rua, abrir a porta do elevador para o vizinho ou elogiar um trabalho bem feito, porque de reclamar ninguém esquece.

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