sexta-feira, 22 de abril de 2011

Quem não tem Uzi, caça com faquinha de serra

Este é um post sobre uma matéria do Estadão online, então, por favor, primeiro leia a matéria e depois o post, afinal eu quero expor a minha opinião, não manipular a sua: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110422/not_imp709441,0.php

 

Hoje saiu no Estadão uma matéria sobre as condições bélicas dos rebeldes líbios. A matéria é descaradamente uma tentativa de nos fazer perder a fé e o respeito nos caras, exaltando como eles estão mal armados e são incapazes de usar qualquer coisa um pouquinho mais moderna por falta de treinamento e disciplina (seja lá o que for que eles querem dizer com isso) e ainda falam sobre o uso de crianças e os perigos de minas terrestres. A mensagem passada é que devemos teme-los e que, mais cedo ou mais tarde, aquilo vai dar merda. E merda generalizada, tudo por culpa dos rebeldes e a sua falta de capacidade em lutar, que vão acabar espalhando minas, destruindo as cidades e matando os inocentes.

O quadro pintando também da a entender que as chances de derrubarem o Kadafi/Gadafi/Khadaphi/… é quase nula, tudo devido a falta de armamento adequado.

O primeiro paragrafo já sentencia: “A metralhadora russa PKT, a italiana Carcano e a francesa MAT-49 estão entre as armas usadas pelos rebeldes líbios que, na prática, têm pouca ou nenhuma utilidade. Projetada para ser disparada de dentro de um tanque, a PKT não tem gatilho, mas é usada por muitos combatentes. O mesmo acontece com a Carcano e a MAT-49, armas antigas, sem peças de reposição. Quem a utiliza seria mais perigoso com uma funda e uma pedra.” 

O recado do Estadão é bem claro: Líbios, desistam, não vai dar certo. Você que torce por eles, também desista, não vai dar certo. Você que recuperou a fé na capacidade de mobilização e luta contra o governo, desista, não da certo.

E tudo isso só me lembrou uma coisa: Guerra do Vietnam.

Quem eram os famosos(?) vietcongs? um bando de norte-vietnamitas magrelos e descalços, armados de facas, armas meia-boca e granadas de mão. E naquele meio tinha homem, criança, mulher grávida, idosos, estudantes, moleques que mal sabiam escrever o próprio nome. Alguém achava que um “exército” com esse perfil tinha alguma chance de vencer uma guerra contra a maior potência mundial, com soldados bem treinados, aviões, tanques, armas de última geração? e não foi exatamente isso o que aconteceu? Aquele bando de comedor de arroz mal nutrido chutou a bunda dos ianques tão longe que até hoje eles precisam sentar com uma almofadinha na cadeira pra não doer.

O que faz a diferença numa luta não é a arma, é a motivação. E isso é desde sempre, exércitos mercenários nunca ganham de um exército com uma ideologia, na revolução francesa foi assim, e assim sempre será. Se você não tem motivação, pode estar armado até os dentes que não vai vencer um adolescente com um estilingue. Pode matar um, mas nunca vai a matar todos. Os palestinos que o digam.

Por isso o meu recado para o Estadão é um sonoro fodam-se. E da próxima vez que tentarem manipular desestimular alguma coisa, por favor, se esforcem um pouquinho mais, porque dessa vez o trabalho foi bem porco.