terça-feira, 8 de março de 2011

Iggy Pop - Lust for Life



Artista: Iggy Pop
Ano de lançamento: 1977
Número de faixas: 9
Duração: 41 minutos

A primeira vez que eu ouvi falar em Iggy Pop foi na MTV, quando ele veio ao Brasil participar de um festival. Isso deve ter sido há uns quatro, cinco anos atrás. E o que mais me chamou a atenção nele foi a aparência: poucas vezes eu vi alguém tão feio. No entanto, vendo alguns de seus clipes, nenhuma das músicas me chamou a atenção. Eis que ano passado, depois de assistir Velvet Goldmine, eu resolvi dar uma segunda chance ao rapaz, afinal o filme é uma mescla de Lou Reed, David Bowie e Iggy Pop, e se eu gosto do Lou e do David, também haveria de gostar do Iggy. Alarme falso, baixei algumas músicas e nada me apeteceu. Porém, quando eu já havia desistido totalmente do magrelo, eis que me indicam, totalmente por acaso, o CD Lust for Life, e aí, finalmente, o Mr. Pop conseguiu me conquistar.

O álbum


Lust for Life foi gravado em 1977, em Berlim, com produção do David Bowie (da até pra ouvir a voz dele como backing vocal em algumas canções). 
Ele fala sobre sucesso, amor, tédio e sentimento de "incompatibilidade" (sabe quando você sente que não faz parte desse mundo?), drogas e, claro, tesão pela vida.
É um disco bem sujo, punk mesmo, direto e reto, mas bem dançante e com músicas um tanto quanto longas pro padrão punk. Estranho, eu sei. Ouça o disco que você vai entender perfeitamente como é (ó o meu lado marketeiro se manifestando).


As músicas


1 - Lust for Life: Começa com um riff altamente grudento e que da vontade de sair dançando por aí. Apesar do ritmo pop, é uma letra um tanto quanto densa. Fala sobre um cara que tem "tesão pela vida", bebe, usa drogas e sofre por essa lorota chamada amor. Segundo ele, é apenas um cara moderno que gosta de viver. Algo um tanto quanto autobiográfico. É uma das melhores do disco

2 - Sixteen: É a mais nhé de todas. É a mais suja também, e os efeitos na voz dele chegam a lembrar um pouco o The Strokes (na verdade é o contrário, né). É sobre um rapaz que se apaixona por uma menina de 16 anos que ele vê em um bar. Mas pelo contexto e pela letra, parece mais uma metáfora para alguma droga. Ou não. Vai ver é coisa da minha cabeça. É que depois de ouvir Velvet Underground tudo parece ter a ver com drogas, a mente fica meio envenenada.


3 - Some Weird Sin: Riff super legal, a melhor do disco. Fala sobre o sentimento de incompatibilidade que eu falei ali em cima. Sobre uma inquietação, uma agonia, uma vida que vai cada vez mais rumo a decadência pela incapacidade de se adequar as normas da sociedade, sobre viver a margem. E a solução que ele encontra para esse dilema é "um pecado estranho", vindo do Iggy Pop, adivinha que pecado esse?

4 - The Passenger: É a pior. Não gosto do cover que o Capital Inicial fez e nem da original. É chata, sei lá, não consigo gostar dela de jeito nenhum.

5 - Tonight: Essa música me chocou. Quando eu a ouvi pela primeira vez fiquei com aquela sensação de que eu já a conhecia de algum lugar, e qual não foi a minha surpresa quando a ficha finalmente caiu e eu me toquei de que ela é essa aqui, cantada pelo David Bowie e a Tina Turner. Sério, é incrível a diferença entre as duas. O Bowie tem o dom de transformar uma música em algo totalmente diferente, ele sempre faz isso.
Voltando a música, me lembra Romeu e Julieta, pois é sobre amor mas parece falar também de suicídio. A amada do protagonista está prestes a morrer e ele está disposto a encontra-la no céu.
O ritmo destoa um pouco do tom geral do álbum, por ser romântico, mas é um romântico legal, apesar de ser meio brega.
Ah, e da pra ouvir a voz do Bowie no fundo.

6 - Success: A segunda melhor. Fala sobre sucesso e os excessos que vem junto com ele. Tapete chinês, carros, tudo o que tem direito. Em contraste com a anterior, essa é música bem felizona.

7 - Turn Blue: Uma mistura de Velvet Underground com Patti Smith. Um instrumental tranquilo que acompanha a voz do Iggy enquanto ele praticamente declama a letra com um ótimo grupo de backing vocals. Lembra um pouco Heroin, do Velvet, mas não é tão agitada e nem descreve tão bem um viagem de heroina (O.o).

8 - Neighborhood Threat: Um pouco mais "sombria" do que a média, mas tão boa quanto. Tem um refrão bem definido, ao contrário de Turn Blue. O David Bowie fez uma versão dela que a deixou totalmente anos 80, mas não é tão boa quanto a original, que é bem mais rock'n'roll.
A primeira vez que eu ouvi falar nessa música foi em uma edição da HQ Sandman, do meu muso quadrinistico Neil Gaiman. Mas por algum motivo bizarro eu nunca fui atrás, e só fui ouvi-la agora, uns 3 ou 4 anos depois desse primeiro contato. As vezes a minha preguiça me assusta.

9 - Fall In Love With Me: É nessa que os efeitos de voz estilo The Strokes estão mais claros, da pra ver o Julian Casablancas escutando isso e dizendo "eu quero ter uma banda com um som igual a esse!". A letra é basicamente o Iggy Pop dizendo como gostaria que uma moça se apaixonasse por ele, no entanto, não se deixe enganar: a música é bem boa, com uma guitarrinha se destacando e se fazendo presente o tempo inteiro. Parece o tipo de música pra se tocar naquelas festas alternativas onde só tem gente estranha, indie e blasé que não sabe dançar direito.

E acabou-se o que era doce. Eu demorei muito, mas finalmente consegui compreender e apreciar a trinca Lou Reed-Iggy Pop-David Bowie. De todos o Bowie é o que tem o som mais "variado" (afinal ele é o camaleão), mas é perfeitamente possível ver semelhanças na obra dos três, como se elas conversassem umas com as outras, seja nos temas, seja na parte rítmica. E os 3 são altamente recomendáveis pra qualquer um que goste de boa música.

ps: A capa desse disco é uma das mais feias que eu já vi na minha vida. Que sorriso assustador.