segunda-feira, 7 de março de 2011

Carnaval + Futebol = pão e circo para a massa alienada. Ou não.

micareta

Todo ano é a mesma coisa: o carnaval chega e 70% da população vai para alguma parte do país correr atrás de um trio elétrico, assistir os desfiles das escolas de samba, beber, transar, mijar na rua, brigar e beber mais um pouco enquanto os 30% restantes ficam em casa reclamando da vida, dizendo que brasileiro é alienado, que enquanto a corrupção rola solta a massa fica dançando axé, que o Brasil é a terra do pão e circo e aquela coisa toda.

Os metidos a revolucionários adoram criticar o carnaval e o futebol como se eles fossem a fonte de todos os problemas dessa terra e realmente acreditar nisso é muita ingenuidade – ou burrice.

O Brasil é um país extremamente corrupto, desigual, violento, com um sistema de saúde precário e uma educação vergonhosa. Acreditar que as coisas são assim porque uma vez por ano as pessoas esquecem a palavra responsabilidade e vão se divertir depois de 12 meses de trabalho ou porque duas vezes por semana, durante 90min, essas mesmas pessoas torcem pro seu time do coração, e que tudo seria diferente se o futebol e o carnaval não existissem, é ser muito utópico.

Manifestações culturais e esportes não foram, não são e nunca serão fonte de problemas políticos e sociais. Se o Brasil tem os problemas que tem, não é porque as pessoas são irresponsáveis uma vez ao ano, é porque elas são irresponsáveis os 365 dias do ano – e inclua aí os intelectuais odiadores de carnaval.

As roubalheiras acontecem em qualquer mês e em qualquer época, e se quando chegam as eleições os mensaleiros são eleitos de novo, a culpa não é do carnaval.

Quem fica grávida e/ou pega DST no carnaval é porque já era puta bem antes. O carnaval não obriga ninguém a dar pra qualquer um.

Quem enche a cara e mata 25 pessoas em um acidente de trânsito é porque já era bêbado e retardado bem antes. O carnaval não obriga ninguém a ser assassino.

Quem faz xixi na rua já fazia antes, o carnaval não obriga ninguém a ser porco.

Tudo isso aumenta nos tempos de “folia”? aumenta, claro. “Nove meses depois a gente vê o resultado”, já cantava o Tchan. Mas nada disso surge e desaparece no carnaval. O comportamento das pessoas nesse feriado é apenas um reflexo aumentado do comportamento do brasileiro o ano inteiro. O carnaval não trás coisas ruins, ele só escancara o que já há de podre por aqui.

A música é ruim? sim, é ruim. E quando é que tem música boa? Restart, Luan Santana? isso é a música de alta qualidade que fica ofuscada pelo axé do Bahia? Ano passado, quando eu passei o carnaval no Rio, fui obrigada a aturar aquela maldita banda Dejá Vú em todos os lugares, inclusive no meio da rua. Mas isso não acontece porque o carnaval deixa a massa sem noção, isso é culpa da falta de educação das pessoas que acham super normal colocar o som do carro no volume 1502 pra todo mundo cantar junto. E falta de educação é rotina e não exceção na vida do povo.

A programação da TV aberta fica ruim? só fala dessa festa o tempo inteiro? cá entre nós, quando a programação da TV aberta é boa? quando está passando Caldeirão do Hulk e Programa do Gugu?

Os ingleses conseguem ser mais fanáticos por futebol que os brasileiros. A Suécia dedica 6 dias seguidos a comemoração da Festa dos Santos (equivalente a nossa Festa Junina). E nenhum desses países é atrasado e subdesenvolvido que nem o Brasil por causa disso. E sabe porque? porque lá o povo se diverte por uns dias e é consciente nos restantes.

O problema do Brasil não são os 90min de futebol e nem os 7 (porque no fundo, no fundo, são 7) dias de carnaval. O problema do Brasil são os dias que vem depois desses.

E antes que você pense que eu estou escrevendo tudo isso do alto de um camarote em Salvador enquanto danço o Melô da Mulher Maravilha, não é nada disso. Eu estou no conforto do meu lar, ouvindo Queen e bem distante de mulheres semi-vestidas, homens bêbados e da Claudia Leitte.

Não gosta de carnaval? de axé? de mulheres vulgares rebolando na TV? que coincidência, eu também não! Porém, isso não nos dá o direito de nos sentirmos superiores ao resto do mundo e colocar o peso de todos os nossos problemas nas costas de quem está feliz na micareta. Seja feliz e deixe o povo ser feliz, cobre responsabilidade e politização nos próximos 11 meses até o carnaval 2012. Tenho certeza absoluta de que dá pra fazer muito mais pela sociedade em 11 meses e 3 semanas do que em um feriado prolongado.