quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vai trabalhar, vagabundo!

Tem coisas que a gente até entende a parte teórica mas só sabe exatamente como é quando passa por isso na pele. Tem uma música do Chico Buarque que diz:

“Tenta pensar no futuro
No escuro tenta pensar
Vai renovar teu seguro
Vai caducar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai trabalhar”

Eu sempre entendi que ele queria dizer que o indivíduo que trabalha não tem tempo pra pensar de verdade e por isso o Brasil vive nessa mediocridade eterna. No entanto, só depois que eu trabalhei – por pouco tempo, mas trabalhei – é que pude entender e formar uma opinião melhor sobre isso.

É claro que o trabalho “mecânico”, repetitivo (lembre-se das aulas de sociologia aonde o professor passava a exaustão a cena de Charles Chaplin sendo engolido pela máquina em "Tempos Modernos”), deixa a pessoa com a cabeça tão cheia que refletir sobre a filosofia da estrutura pedagógica e social do ensino base brasileiro fica fora de questão, mas dizer que o trabalho e a revolução industrial é a única responsável por todos os nossos problemas é um exagero (e eu tenho certeza que o Chico sabe disso). É uma mistura de tudo. Educação ruim, falta de estrutura financeira e familiar (quantas pessoas “sem pai” ou com famílias problemáticas você conhece?), e trabalhos emburrecedores contribuem em conjunto para a situação atual não só dos brasileiros, mas do mundo, culpar só a estrutura escravagista trabalhista é besteira, porém, ao viver novamente no ócio, não tem como eu negar que cabeça vazia é oficina do diabo todo este tempo livre me faz refletir sobre tudo e mais um pouco – das maiores besteiras às grandes questões da humanidade. Em apenas três dias eu já criei preocupações inúteis, escrevi algumas vezes neste blog, enfim, coisas que só a disponibilidade pode trazer. É por isso que muitos dos grandes artistas e pensadores eram “vagabundos” – não que eu esteja me comparando a nenhuma deles, óbvio – pois só o tempo livre é capaz de fazer alguém criar alguma obra prima, ou a fazer uma grande besteira. Aí depende do nível de QI e do caráter do inútil em questão.

'”Então você vai abrir mão da vida trabalhista pra ficar atoa em casa?” Não, eu gostei de trabalhar, só não gostei do trabalho que eu fazia. Na verdade, o que deixa a pessoa meio não-pensante não é nem o ato de trabalhar, e sim o exercício diário de paciência para sobreviver a um emprego insuportável e totalmente insatisfatório. O estresse causado é tão grande que paralisa. Mas quem ama o que faz, esses continuam produtivos pois criam encima dele, dão o seu melhor, se sentem completos por fazer o que fazem. O que caduca e estraga o homem não é o esforço físico e nem o intelectual, e sim o esforço mental de passar a vida esperando a sexta-feira chegar.